Uretrite Gonocócica

 




O gonococo, Neisseria gonorrhoeae, é um diplococo Gram-negativo intracelular, um dos mais frequentes agentes etiológicos causadores da secreção uretral masculina. A gonorréia, popularmente conhecida como pingadeira, gota matinal, escorrimento ou esquentamento, é considerada uma das mais antigas doenças da humanidade, relatada nos textos Bíblicos (Lev.15:1- 19) e escritos Chinês. Atualmente, é um dos problemas de saúde pública mundial, em que nos países em desenvolvimento apresentam altas incidências da doença e altas taxas de sequelas.

Adolescentes e adultos jovens apresentam alto risco para a aquisição da infecção gonocócica, o que é preocupante em vista do aumento da suscetibilidade da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). O aumento do risco associado da gonorréia com a infecção pelo HIV 1 é decorrente do aumento da expressão do RNA viral induzida pelo gonococo, que em conjunto com a resposta inflamatória aguda, favorece a perda da integridade da mucosa.

A uretrite gonocócica pode ser transmitida pelo sexo em todas as situações: oral, vaginal, anal. A prática sexual com pessoas infectadas serve como modo principal de transmissão da N. gonorrhoeae, entretanto mulheres grávidas e infectadas pelo gonococo poderão transmitir esta bactéria para seus bebês durante o parto. O gonococo é transmissível mais eficientemente de um homem infectado para a mulher (probabilidade de 50% a 73%, independente do número de exposição) do que da mulher infectada para o homem (probabilidade de uma única exposição: 20% a 35%). Em outros estudos, o risco de transmissão foi de 90 a 97% (80% em um único intercurso sexual no homem e em torno de 50% na mulher). O período de incubação é variável,

de horas a meses dependendo dos estudos na literatura, sendo mais freqüente de 2 a 5 dias. O sucesso da colonização do gonococo resulta no amplo espectro da manifestação clínica da doença que é em parte determinada pela cepa e o local anatômico da infecção.

A N. gonorrhoeae é um patógeno exclusivamente humano que primariamente infecta o epitélio urogenital. Embora a uretra e o colo uterino sirvam como o local de entrada para a infecção gonocócica nos homens e mulheres, respectivamente, infecções da conjuntiva, faringe, e mucosa retal são também afetadas. A infecção da N. gonorrhoeae na superfície das células de diferentes epitélios permite uma ampla manifestação clínica da doença. Nos homens apresenta-se como uretrite aguda devido a uma importante reação inflamatória local. Entretanto, uma pequena percentagem dos homens é assintomática.

Os sinais e sintomas podem iniciar com sensação de formigamento ou prurido intra-uretral e disúria. Após dois a três dias pode surgir um fluxo uretral inicialmente mucoso, que rapidamente se torna mucopurulento, de cor amarelo-esverdeado, com eliminação abundante e espontânea, ou com eliminação sob leve pressão. As bordas do meato uretral podem ficar edemaciadas e a mucosa que a circunscreve apresenta-se eritematosa. Principalmente nos prepúcios longos, a pele, incha-se e não é raro o aparecimento de fimose inflamatória.

Essas complicações decorrentes do gonococo podem ocorrer localmente na forma de: parafimose, balanopostite, estenose de uretra, epididimite, prostatite e outras. Os pacientes não tratados também podem evoluir para infecção disseminada, com o surgimento de manchas cutâneas vermelhas, pústulas, febre, sensação de mal-estar generalizado e dor migratória em muitas articulações (síndrome da artritedermatite). Embora não muito frequente, pode causar artrite (edema, hiperemia, calor, dor importante, limitação dos movimentos de uma ou mais articulações), bem como, conjuntivite, endocardite, meningites, perihepatite gonocócica e síndrome de Reiter. Essas infecções são tratáveis e raramente letais, mas a recuperação da artrite e da endocardite pode ser lenta.

Na mulher, a N.gonorrhoeae causa a endocervicite e na maioria dos casos é assintomática ou apresenta-se com quadros clínicos mais frustros. Seu tratamento é eficaz e a transmissão é interrompida rapidamente. Caso não seja tratada adequadamente, a infecção pode durar de meses a anos levando a graves complicações, tais como: DIP, gravidez ectópica, dor pélvica crônica, infertilidade, dentre outras.

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