Aconselhamento em DST

ACONSELHAMENTO O aconselhamento é entendido como um “processo de escuta ativa individualizado e centrado no cliente. Pressupõe a capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores, visando o resgate dos recursos internos do cliente para que ele mesmo tenha possibilidade de reconhecer-se como sujeito de sua própria saúde e transformação.” (CN DST/Aids - MS, 1997) Tido como um instrumento importante para a quebra na cadeia de transmissão das DST, o aconselhamento auxilia o paciente a:
  • compreender a relação existente entre o seu comportamento e o problema de saúde que estáapresentando,
  • a reconhecer os recursos que tem para cuidar da sua saúde e evitar novas infecções.
Esta prática pressupõe o reconhecimento pelo profissional de que o sucesso a ser alcançado depende da ação conjunta de ambos interlocutores (profissional e paciente). Implica, portanto, na participação ativa do paciente no processo terapêutico e na promoção de um diálogo no qual a mensagem é contextualizada às características e vivências do indivíduo em atendimento. A idéia demarcada no processo de aconselhamento é a TROCA:
  • por um lado há o profissional com seu saber técnico científico, suas crenças, valores e suas possibilidades e limites em manejar/conduzir cada caso, e
  • por outro lado há o paciente com seu saber, crenças, valores e suas possibilidades e limites em adotar medidas preventivas e seguir as prescrições médicas.
OBJETIVOS DO ACONSELHAMENTO Na medida que, no processo de aconselhamento, a “demanda” do paciente, entendida como suas necessidades, dúvidas, preocupações, medos, angústias, etc., relacionadas ao seu problema de saúde, é identificada e acolhida, torna-se possível o desenvolvimento de uma relação de confiança e a promoção de apoio emocional. Dessa forma, o nível de estresse do paciente é reduzido, propiciando as condições para o alcance dos seguintes objetivos:
  • trocar informações sobre DST, HIV e aids, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento;
  • realizar avaliação de riscos, permitindo a compreensão/consciência a respeito dos riscos pessoais de infecção para a DST atual e para o HIV;
  • identificar os limites e as possibilidades existentes para a adoção de medidas preventivas, estimulando o cuidado de si e dos parceiros;
  • promover a adesão ao tratamento; e
  • promover a comunicação e tratamento do(s) parceiro(s) sexual(is).
ACONSELHAMENTO INDIVIDUAL E COLETIVO O aconselhamento pode ser realizado tanto em grupo como individualmente. Na abordagem coletiva, as questões comuns expressas pelos participantes devem nortear o conteúdo a ser abordado. Nesse sentido, a identificação da demanda do grupo é fundamental. No grupo, as pessoas têm a oportunidade de redimensionar suas dificuldades ao compartilhar dúvidas, sentimentos, conhecimentos, etc. Em algumas circunstâncias, essa abordagem pode provocar alívio do estresse emocional vivenciado pelos pacientes. A dinâmica grupal também pode favorecer o indivíduo a perceber sua própria demanda, a reconhecer o que sabe e sente, estimulando sua participação nos atendimentos individuais subsequentes. Os grupos realizados em sala de espera podem ser um exemplo dessa abordagem, além de otimizarem o tempo que o usuário passa no serviço de saúde. É importante, entretanto, que o profissional esteja atento para perceber os limites que separam as questões que devem ser abordadas no espaço grupal daquelas pertinentes ao atendimento individual. QUEM FAZ O ACONSELHAMENTO? Todos os profissionais da equipe de saúde deveriam estar aptos a desenvolver o aconselhamento. É fundamental que a pessoa que realiza esta atividade tenha informações atualizadas e tecnicamente corretas sobre DST/Aids. Outro aspecto importante para que o aconselhamento se desenvolva adequadamente é adotar uma postura de acolhimento valorizando o que o paciente sabe, pensa e sente a respeito do seu problema de saúde, facilitando desta forma a formação do vínculo de confiança essencial em todo o processo. Cabe à equipe do serviço de saúde funcionar de maneira harmônica e integrada e organizar-se da forma mais conveniente para que o aconselhamento seja desenvolvido durante o processo de atendimento dos usuários. Enfim, para que o Aconselhamento seja viável, os profissionais devem reconhecer os próprios limites, saber que não podem responder a tudo, possibilitando assim um “encontro entre profissionais humanos e pacientes humanos”. PROCEDIMENTOS BÁSICOS DO ACONSELHAMENTO
  • reafirmar a confidencialidade e o sigilo das informações prestadas;
  • identificar com clareza a demanda do cliente;
  • prestar apoio emocional ao cliente;
  • facilitar ao cliente a expressão de sentimentos;
  • identificar as crenças e os valores do cliente acerca das DST, HIV e aids;
  • utilizar linguagem compatível com a cultura do cliente;
  • trocar informações específicas sobre a(s) DST apresentada(s);
  • avaliar com o cliente seu histórico de outras DST e as situações de risco que culminaram nesta DST;
  • reforçar a necessidade da adoção de práticas mais seguras para a redução de riscos;
  • explicar as complicações decorrentes de não ser feito o tratamento, ou do tratamento ser incompleto ou da auto-medicação;
  • reforçar a necessidade de retorno ao serviço se não houver melhora ou sempre que apresentar algum sintoma;
  • reforçar a necessidade do tratamento dos parceiros sexuais;
  • trocar informações sobre DST e HIV e aids, suas formas de transmissão, prevenção e tratamento, com ênfase nas situações de risco do cliente;
  • ajudar o cliente a avaliar e perceber seus riscos de infecção pelo HIV e outras DST;
  • identificar barreiras para a mudança das situações de risco;
  • contribuir para a elaboração de um plano viável de redução de riscos;
  • explicar o benefício e demonstrar o uso correto do preservativo;
  • avaliar possíveis dificuldades quanto ao uso do preservativo e sua superação;
  • avaliar e recomendar a possibilidade de outras práticas sexuais seguras;
  • ajudar o cliente a reconhecer suas responsabilidades e possibilidades em lidar com seu problema;
  • lembrar que o consumo de álcool e outras drogas, lícitas ou ilícitas pode alterar a percepção de risco;
  • estimular a auto-estima e autoconfiança do cliente;
  • favorecer a desconstrução de estigmas, mitos e preconceitos relacionados às DST e HIV e aids;
  • estimular a disseminação das orientações recebidas;
  • encaminhar o cliente para outros serviços de assistência, incluindo grupos comunitários de apoio, quando necessário;
  • enfatizar a relação entre DST e HIV e aids, principalmente o fato de uma DST facilitar a transmissão do HIV, qualquer que seja ela;
  • oferecer testagem anti-HIV e aconselhamento pré e pós-teste.
ACONSELHAMENTO PRÉ-TESTE ANTI-HIV
  • reafirmar o caráter voluntário e confidencial da testagem;
  • avaliar com o cliente a realização ou não do teste;
  • verificar história anterior de testagem e riscos;
  • trocar informações sobre o sistema de teste e o conceito de “janela imunológica”;
  • trocar com o cliente informações sobre o significado dos possíveis resultados do teste;
  • reforçar para o cliente a diferença entre HIV e aids;
  • considerar com o cliente o impacto em sua vida dos possíveis resultados do teste;
  • sondar qual o apoio emocional e social disponível ao cliente (família, parceiros, amigos, trabalho e outros);
  • considerar com o cliente possíveis reações emocionais no período de espera do resultado do teste;
  • reforçar a necessidade da adoção de práticas seguras frente ao HIV, também neste período.
ACONSELHAMENTO PÓS-TESTE DIANTE DE RESULTADO NEGATIVO:
  • informar que um resultado negativo significa que a pessoa não está infectada ou foi infectada tão recentemente que não produziu anticorpos necessários para detecção pelo teste utilizado;
  • avaliar a possibilidade do cliente estar em “janela imunológica” e necessitar de um novo teste;
  • lembrar que um resultado negativo não significa imunidade;
  • reforçar as práticas seguras já adotadas ou a serem adotadas pelo cliente frente ao HIV;
  • reforçar os benefícios do uso exclusivo de equipamentos para o consumo de drogas injetáveis e demonstrar o método correto de limpeza e desinfecção de seringas e agulhas, caso seja necessário.
ACONSELHAMENTO PÓS-TESTE DIANTE DE RESULTADO POSITIVO:
  • permitir o tempo necessário para que o cliente assimile o impacto do diagnóstico e expresse seus sentimentos;
  • conversar sobre sentimentos e dúvidas, prestando o apoio emocional necessário;
  • estar atento para o manejo adequado de sentimentos comuns, tais como raiva, ansiedade, depressão, medo, negação e outros;
  • desmistificar sentimentos que associam HIV/AIDS a culpa, punição, rejeição, degenerescência, morte, e outros;
  • retomar que um resultado positivo significa que a pessoa é portadora do vírus, podendo ou não estar com a doença desenvolvida;
  • enfatizar que mesmo sendo um portador assintomático pode transmitir o vírus para outros;
  • reforçar a importância de acompanhamento médico, ressaltando que a infecção é tratável;
  • reforçar a necessidade da adoção de práticas seguras para a redução de riscos de re-infecção pelo HIV e outras DST;
  • reforçar o benefício e demonstrar o uso correto do preservativo, caso ainda haja dúvidas;
  • reforçar os benefícios do uso exclusivo de equipamentos para o consumo de drogas injetáveis e demonstrar o método correto de limpeza e desinfecção de seringas e agulhas, caso seja necessário.
  • enfatizar a necessidade do resultado ser comunicado aos parceiros sexuais oferecendo ajuda, caso seja solicitada;
  • orientar quanto a necessidade dos parceiros realizarem o teste anti-HIV;
  • definir com o cliente os serviços de assistência necessários, incluindo grupos comunitários de apoio;
  • em caso de gestante explicar:
  • as formas de transmissão vertical, que podem ocorrer durante a gestação, parto ou aleitamento;
  • como pode minimizar as chances da transmissão vertical;
  • a transmissão dos anticorpos maternos e o processo de soroconversão no recém-nascido;
  • os riscos da amamentação; e
  • a necessidade de realizar o teste de todos os filhos nascidos após a infecção ou, em caso de dúvida, após 1980.
ACONSELHAMENTO PÓS-TESTE DIANTE DE RESULTADO INDETERMINADO:
  • explicar que um resultado indeterminado pode significar: um falso positivo devido a razões biológicas ou um verdadeiro positivo de uma infecção recente cujos anticorpos não estão plenamente desenvolvidos;
  • reforçar a adoção de práticas seguras para a redução de riscos de infecção pelo HIV e outras DST;
  • reforçar o benefício e demonstrar o uso correto do preservativo;
  • reforçar os benefícios do uso exclusivo de equipamentos para o consumo de drogas injetáveis e demonstrar o método correto de limpeza e desinfecção de seringas e agulhas, caso seja necessário;
  • orientar a realização de nova coleta para refazer o teste no período definido pelo laboratório; e
  • considerar com o cliente possíveis reações emocionais no período de espera do resultado do teste e referenciar para apoio psicológico, se necessário.

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