Consenso sobre terapia anti-retroviral para crianças infectadas pelo HIV - 1999


INTRODUÇÃO

A compreensão sobre a dinâmica viral e celular na infecção pelo HIV, ao lado do desenvolvimento de novas classes de drogas, propiciaram uma reformulação na terapêutica anti-retroviral, resultando no advento do tratamento combinado com duas ou mais drogas. Esses avanços levaram a uma alteração na história natural da doença, propiciando uma menor morbi-mortalidade. Essa reformulação foi também baseada em estudos internacionais que evidenciaram ser tal estratégia de maior eficácia na redução da replicação viral.

Apesar dos benefícios da terapêutica anti-retroviral, esta deve ser usada criteriosamente, devendo-se analisar, com cuidado, cada caso; do contrário, estaremos correndo o risco da indução de resistência aos anti-retrovirais disponíveis..

Um fator fundamental para a eficácia do esquema terapêutico é a adequada adesão ao tratamento por parte da criança e responsáveis. Essa questão deve ser considerada quando da individualização do esquema prescrito. Na escolha do regime anti-retroviral, devem ser considerados os principais fatores que influenciam na adesão: (1) disponibilidade e palatabilidade da formulação; (2) impacto do esquema terapêutico na qualidade de vida, incluindo número de medicamentos, frequência de administração e necessidade de ingestão com ou sem alimentos; (3) habilidade dos responsáveis na administração de regimes complexos; e (4) potencial de interação com outras drogas.

Sabe-se, pela história natural da aids pediátrica, que a evolução varia desde crianças rapidamente progressoras até não progressoras. Múltiplos são os fatores que contribuem para os diferentes padrões de progressão da doença em crianças, incluindo época da infecção, genótipo e fenótipo viral, carga viral, resposta imune e constituição genética individual. Portanto, acompanhamento clínico, avaliação imunológica e virológica seriados são fundamentais para avaliar o prognóstico e orientar decisões terapêuticas.

Novas classes de drogas, como os inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos, apresentam experiência limitada na população pediátrica, e portanto, a sua indicação deve seguir critérios bem estabelecidos. No momento, dentre esses fármacos, somente nevirapina e efavirenz foram, recentemente, licenciados para uso em crianças pelo Food and Drug Administration.

A mensuração da carga viral constitui, em adulto, um parâmetro fundamental para indicação do início da terapêutica anti-retroviral, bem como para o monitoramento da eficácia do tratamento. Contudo, nas crianças, ainda não estão bem fundamentados os valores de carga viral para início da terapia.

Considerando a necessidade de incorporar novos fármacos e de atualizar as novas indicações e esquemas de terapia anti-retroviral ao Guia de Tratamento da Infecção pelo HIV em Crianças, a Coordenação Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS do Ministério da Saúde realizou, em Brasília, uma reunião do Grupo Assessor da Terapia Anti-retroviral em Crianças, para promover a revisão deste documento, cujo resultado apresentamos ao leitor.





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