Descrição - Pode manifestar-se sob várias formas:
Fase aguda  (Doença de Chagas Aguda - DCA): caracterizada por miocardite difusa, com  vários graus de severidade. Pode ocorrer pericardite, derrame  pericárdico, tamponamento cardíaco, cardiomegalia, insuficiência  cardíaca, derrame pleural.
Manifestações comuns: febre prolongada  e recorrente, cefaléia, mialgias, astenia, edema de face ou membros  inferiores, linfadenopatia, hepatomegalia, esplenomegalia, ascite, rash  cutâneo. Manifestações digestivas (diarréia, vômito e epigastralgia) são  comuns na transmissão oral, podendo haver icterícia, lesões em mucosa  gástrica e hemorragia digestiva. Na transmissão vetorial pode haver  sinais de porta de entrada: sinal de Romaña (edema bipalpebral  unilateral) ou chagoma de inoculação (lesão semelhante a furúnculo que  não supura). Meningoencefalite pode ocorrer em lactentes ou em casos de  reativação (imunodeprimidos). Alterações laboratoriais: anemia,  leucocitose, linfocitose, plaquetopenia; alteração em enzimas hepáticas,  provas de coagulação e marcadores de atividade inflamatória (velocidade  de hemossedimentação, proteína C-reativa, etc).
Fase crônica: passada a fase aguda ocorre redução da parasitemia.
Para  ser considerado crônico, é necessária a comprovação de contato com o T.  cruzi (sorológico ou parasitológico). Pode evoluir para uma das formas:  a) Indeterminada: é a forma crônica mais freqüente; pode durar toda a  vida ou, após cerca de 10 anos, evoluir para outras formas.
b)  Cardíaca: importante causa de limitação e morte do chagásico crônico.  Pode apresentar insuficiência cardíaca de diversos graus, arritmias,  acidentes tromboembólicos, aneurisma de ponta do coração, morte súbita.
c)  Digestiva: sugerem megaesôfago: disfagia, dor retroesternal à passagem  do alimento, regurgitação, epigastralgia, odinofagia, soluços, excesso  de salivação, hipertrofia de parótidas; casos mais graves podem  apresentar esofagite, fístulas esofágicas, alterações pulmonares por  aspiração de conteúdo de refluxo gastroesofágico.
Sugerem  megacólon: constipação intestinal de instalação insidiosa, meteorismo,  distensão abdominal; volvos e torções de intestino e fecalomas podem  complicar o quadro.
d) Forma mista: ocorrência simultânea de pelo menos duas formas da doença (geralmente cardíaca e digestiva).
e)  Outras formas: formas nervosas, outros megas e comprometimento de  outros órgãos (raras), em geral acometendo a musculatura lisa.
Forma  congênita: ocorre em crianças nascidas de mães com exame positivo para  T. cruzi. Pode haver prematuridade, baixo peso, hepatoesplenomegalia,  icterícia, equimoses e convulsões por hipoglicemia; meningoencefalite  costuma ser letal.
Agente etiológico - Trypanosoma cruzi,  protozoário caracterizado pela presença de flagelo e uma única  mitocôndria. No sangue aparecem como tripomastigotas; nos tecidos, como  amastigotas.
Vetores - Triatomíneos hematófagos, conhecidos como  “barbeiros” ou “chupões”. Podem viver no intradomicílio, peridomicílio  ou no meio silvestre. Diversas espécies foram encontradas infectadas no  Brasil; as mais importantes são Triatoma infestans, T. brasiliensis,  Panstrongylus megistus, T. sordida, T. pseudomaculata. Na Região  Amazônica, 18 espécies são incriminadas como importantes vetoras.
Reservatórios  - Além do homem, diversos mamíferos domésticos e silvestres são  infectados pelo T. cruzi. Os mais importantes são os que estão próximos  do homem (gatos, cães, porcos, ratos). Também são relevantes tatus,  gambás, primatas não humanos, morcegos, entre outros animais silvestres.
Aves, répteis e anfíbios são refratários à infecção pelo T. cruzi.
Modo  de transmissão - Vetorial: passagem do T. cruzi dos excretas de  triatomíneos pela pele lesada ou mucosas durante ou logo após o repasto  sanguíneo. Transfusional: infecção por meio de hemoderivados, órgãos ou  tecidos de doadores contaminados. Vertical: passagem do T. cruzi de mães  para seus filhos durante a gestação ou parto. Oral: pela ingestão de  alimentos contaminados com T. cruzi. Esta forma é implicada em surtos em  diversos estados e na Amazônia brasileira, com letalidade elevada.  Acidental: a partir do contato de material contaminado (sangue de  doentes, excretas de triatomíneos com a pele lesada ou mucosas,  geralmente durante a manipulação em laboratório sem equipamento adequado  de biossegurança.
Período de incubação - Varia com a forma de  transmissão: vetorial: 5-15 dias; transfusional: 30-40 dias; vertical:  pode ocorrer em qualquer período da gestação ou durante o parto; oral:  3-22 dias.
Período de transmissibilidade - O chagásico pode  albergar o T. cruzi por toda a vida. No entanto, os principais  reservatórios são os outros mamíferos já citados.
Diagnóstico -  Fase aguda: É determinada pela presença de: a) parasitos circulantes em  exames parasitológicos diretos de sangue periférico (exame a fresco,  esfregaço, gota espessa). Quando houver sintomas por mais de 30 dias são  recomendados métodos de concentração devido ao declínio da parasitemia  (teste de Strout, micro-hematócrito, QBC); ou b) anticorpos IgM anti-T.  cruzi no sangue, que indicam doença aguda quando associados a fatores  clínicos e epidemiológicos compatíveis.
Fase Crônica: presença de  IgG anti-T. cruzi detectado por dois testes sorológicos de princípios  distintos (Hemoaglutinação, Imunofluorescência Indireta ou Elisa).  Exames parasitológicos são desnecessários para o manejo dos pacientes  crônicos; no entanto, xenodiagóstico, hemocultivo, PCR ou biópsia  positivos podem indicar essa forma da doença.
Diagnóstico  diferencial - Fase aguda: leishmaniose visceral, hantavirose,  toxoplasmose, febre tifóide, mononucleose infecciosa, leptospirose,  miocardites virais, esquistossomose aguda. As formas congênitas devem  ser diferenciadas daquelas causadas pelas infecções STORCH (sífilis,  toxoplasmose, citomegalovirose, rubéola, herpes, outras). A  meningoencefalite chagásica diferencia-se da toxoplásmica pela sua  localização fora do núcleo da base
e pela abundância do T. cruzi no  líquor. A miocardite crônica e os megas devem ser diferenciados de  formas causadas por outras etiologias.
Tratamento - Procure seu médico ou posto de saúde.
Características  epidemiológicas - A forma de transmissão mais importante era a  vetorial, nas áreas rurais, responsável por cerca de 80% dos casos hoje  considerados crônicos. As medidas de controle vetorial proporcionaram a  eliminação da transmissão pela principal espécie vetora (T. infestans). A  transmissão transfusional sofreu redução importante com o controle de  doadores de sangue e hemoderivados. Nos últimos anos as formas vertical e  oral ganharam importância epidemiológica, sendo responsáveis por grande  parte dos casos identificados.
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Área  endêmica: em áreas com risco de transmissão vetorial domiciliar, está  centrada na vigilância entomológica, com o objetivo detectar a presença e  prevenir a formação de colônias domiciliares do vetor. Quando  identificados casos agudos deve-se realizar investigação epidemiológica e  entomológica e busca de novos casos. Amazônia Legal e áreas indenes:  porque ainda não foram identificados vetores colonizando o domicílio,  esforços devem ser concentrados na vigilância de casos e surtos.
Na  Amazônia Legal a vigilância tem base na realização de exames  hemoscópicos para malária em pessoas febris. Nos casos agudos deve-se  realizar busca de evidências de domiciliação de vetores, identificação e  mapeamento de marcadores ambientais a partir do reconhecimento de  ecótopos preferenciais das espécies de vetores mais prevalentes.
Notificação  - Todos os casos de DCA devem ser imediatamente notificados ao sistema  de saúde (portaria SVS 5/2006). Não notificar casos de reativação ou  crônicos.
Definição de caso
Suspeito de DCA: paciente com febre prolongada (mais de 7 dias) e que:
a)  apresente hepatomegalia, esplenomegalia, cardiopatia aguda, sinal de  Romaña ou chagoma de inoculação; e b) seja residente/visitante de área  com ocorrência de triatomíneos, seja transfundido/transplantado ou tenha  ingerido alimento suspeito de contaminação pelo T. cruzi.
Confirmado  de DCA: paciente que apresente: a) T. cruzi circulante no sangue  periférico identificado por exame parasitológico direto, com ou sem  sinais e sintomas; ou b) sorologia positiva para IgM anti-T. cruzi na  presença de evidências clínicas e epidemiológicas indicativas de DCA.
Doença  de Chagas congênita: recém-nascido de mãe com exame sorológico ou  parasitológico positivo para T. cruzi, que apresente exame  parasitológico positivo a partir do nascimento ou exame sorológico  positivo a partir do 6º mês de nascimento, e que não apresente evidência  de infecção por outra forma de transmissão.
Doença de Chagas  crônica (DC): indivíduo com pelo menos dois exames sorológicos, ou com  xenodiagnóstico, hemocultivo, biópsia ou PCR positivos para T. cruzi e  que apresente: a) Forma indeterminada: nenhuma manifestação clínica ou  alteração compatível com DC em exames específicos (cardiológicos,  digestivos, etc). b) Forma cardíaca: exames compatíveis com  miocardiopatia chagásica (eletrocardiografia, ecocardiografia,  radiografias).
Alterações comuns: bloqueios de ramo,  extrassístoles ventriculares, sobrecarga de cavidades cardíacas,  cardiomegalia, etc. c) Forma digestiva: exames (geralmente radiológicos  contrastados) compatíveis com megaesôfago ou megacólon. d) Forma mista:  exames compatíveis com miocardiopatia chagásica e algum tipo de mega.
MEDIDAS DE CONTROLE
Transmissão  vetorial: controle químico de vetores com inseticidas quando a  investigação entomológica indicar a presença de triatomíneos  domiciliados; melhoria habitacional em áreas de alto risco suscetíveis a  domiciliação. Transmissão transfusional: manutenção do controle de  qualidade rigososo de hemoderivados. Transmissão vertical: identificação  de gestantes chagásicas na assistência pré-natal ou de recém-nascidos  por triagem neonatal para tratamento precoce. Transmissão oral: cuidados  de higiene na produção e manipulação artesanal de alimentos de origem  vegetal.
Transmissão acidental: utilização de equipamento de biossegurança.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
 
3/related/dafault

Postar um comentário
0Comentários