Hantaviroses

Descrição - As hantaviroses são antropozoonoses virais agudas, cujas infecções em humanos podem se manifestar sob várias formas clínicas, desde o modo inaparente ou como enfermidade subclínica, cuja suspeita diagnóstica fundamenta-se nos antecedentes epidemiológicos, até quadros mais graves e característicos, como a febre hemorrágica com síndrome renal (FHSR), típica da Europa e da Ásia, e a síndrome cardiopulmonar por hantavírus (SCPH), detectada somente nas Américas.

Na FHSR, os principais sinais e sintomas são febre, cefaléia, mialgia, dor abdominal, náuseas, vômitos, rubor facial, petéquias e hemorragia conjuntival, seguidos de hipotensão, taquicardia, oligúria e hemorragias severas, evoluindo para quadro de poliúria, que antecipa o início da recuperação, na maioria dos casos.

Na SCPH, as principais manifestações na fase prodrômica são febre, mialgias, dor lombar, dor abdominal, cefaléia e sintomas gastrintestinais; e na fase cardiopulmonar, febre, dispnéia, taquipnéia, taquicardia, tosse seca, hipotensão, edema pulmonar não-cardiogênico, com o paciente evoluindo para insuficiência respiratória aguda e choque circulatório.

Sinonímia - Febre hemorrágica com síndrome renal – Nefrosenefrite hemorrágica, na antiga União Soviética; febre songo ou febre hemorrágica epidêmica, na China; febre hemorrágica coreana, na Coréia; nefropatia epidêmica na Escandinávia, nefrite epidêmica ou febre hemorrágica epidêmica ou nefrite dos Balcãs, na Europa; e febre hemorrágica epidêmica, no Japão.

Síndrome Pulmonar por Hantavírus - Síndrome de insuficiência pulmonar do adulto por vírus hanta (SIRA).

Agente etiológico - Vírus RNA, pertencente à família Bunyaviridae, gênero Hantavirus.

Reservatórios - Os hantavírus são transmitidos por roedores silvestres da ordem Rodentia, família Muridae. As subfamílias Arvicolinae e Murinae detém os principais reservatórios primários da FHSR, enquanto que os da subfamília Sigmodontinae, da mesma família Muridae, são os roedores envolvidos com a SCPH. Cada vírus está associado apenas a uma espécie específica de roedor hospedeiro. Nesses animais, a infecção pelo hantavírus aparentemente não é letal e pode levá-loao estado de reservatório por longos períodos, provavelmente toda a vida.

Modo de transmissão - Inalação de aerossóis formados a partir de secreções e excretas dos reservatórios (roedores). Outras formas mais raras de transmissão: ingestão de água e alimentos contaminados; forma percutânea, através de escoriações cutâneas ou mordeduras de roedores; contato do vírus com as mucosas, como a conjuntiva, ou boca ou nariz, por meio de mãos contaminadas com excretas dos roedores, em indivíduos que trabalham ou visitam laboratórios e biotérios contaminados.

Na Argentina, embora tenha sido considerado um evento raro, foi descrita a transmissão pessoa a pessoa.

Período de incubação - Em média, duas semanas, com variação de 4 a 60 dias.

Período de transmissibilidade - Desconhecido.

Complicações - Na FHSR: insuficiência renal irreversível; na SCPH: insuficiência respiratória aguda e choque circulatório.

Diagnóstico - Para ambas hantaviroses: suspeita clínica e epidemiológica.

O diagnóstico laboratorial pode ser realizado por meio de pesquisa de anticorpos IgM ou IgG (duas amostras), por Elisa (material: soro ou sangue) ou por imunohistoquímica (material: tecidos e fragmentos de órgãos, colhidos até, no máximo, 8 horas após o óbito) ou RT-PCR (material: soro, coágulo sangüíneo e fragmentos de tecidos, colhidos nos primeiros 7 a 10 dias da doença).

Diagnóstico diferencial

Febre hemorrágica com síndrome renal - Doenças que cursam com febre hemorrágica, como malária grave, leptospirose, septicemia (gramnegativo), hepatite B, intoxicações exógenas, dengue hemorrágico e febre amarela.

Síndrome pulmonar por hantavírus - Os principais diagnósticos diferenciais incluem as septicemias, leptospirose, viroses respiratórias, pneumonias atípicas (Legionella sp, Mycoplasma sp, Chlamydia sp), histoplasmose pulmonar e pneumocistose. Na fase inicial da doença pode-se incluir como diagnóstico diferencial a dengue e as demais febres hemorrágicas de etiologia viral.

Tratamento – Procure seu médico ou posto de saúde.

Características epidemiológicas

Febre hemorrágica com síndrome renal - Mostra-se endêmica na Ásia, especificamente na China e Coréia, e na Europa, nos países escandinavos (Finlândia, Suécia, Noruega), em alguns países dos Bálcãs, como Eslovênia e Croácia, além de França, Alemanha e Grécia, com incidência anual de 150.000 a 200.000 casos, e letalidade de até 5%.

Síndrome pulmonar por hantavírus - Detectada nos EUA em 1993, tem sido também registrada no Canadá, Panamá, Brasil, Venezuela, Bolívia, Paraguai, Chile, Argentina, Uruguai e Colômbia, com uma taxa de letalidade variável entre 20% - 50%. No Brasil, tem sido diagnosticada de forma regular na região Sul, nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso e, esporadicamente, em Goiás, sul do Pará, Rio Grande do Norte e Bahia. Os primeiros casos foram identificados no estado de São Paulo, em novembro de 1993. Desde então, mais de 320 casos foram registrados, apresentando o perfil epidemiológico de um residente em área rural, com ocupação em atividades agrícolas. A taxa de letalidade é de 47%. Situações de risco mais comuns: acesso de roedores às habitações; limpeza de imóvel fechado há tempos; desmatamento,
aragem, plantio e colheita; transporte e/ou moagem de grãos; ecoturismo ou atividades de lazer como caça e pesca.

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA SCPH

Objetivos - Detectar precocemente os casos e surtos; conhecer a história natural da doença e a distribuição geográfica dos hantavírus; identificar fatores de risco, espécie de roedores reservatórios e tipos de vírus circulantes; estudar as tendências da doença e propor medidas de prevenção e controle.

Definição de caso de SCPH

Suspeito - Paciente com doença febril, geralmente acima de 38°C, e mialgias, acompanhados de um ou mais dos seguintes sinais e sintomas: dor lombar, dor abdominal, cefaléia, sintomas gastrintestinais, dispnéia, taquipnéia, taquicardia, tosse seca, hipotensão, edema pulmonar não-cardiogênico, na primeira semana da doença, ou paciente com enfermidade aguda, apresentando quadro de edema pulmonar nãocardiogênico, com evolução para o óbito, ou paciente com história de doença febril, com exposição à mesma fonte de infecção de um ou mais casos de SCPH confirmados laboratorialmente.

Confirmado

Critério laboratorial - Caso suspeito, com os seguintes resultados de exames laboratoriais: sorologia reagente para hantavírus da classe IgM ou soroconversão para anticorpos da classe IgG (aumento de quatro vezes ou mais no título de IgG, entre a primeira e segunda amostra) ou imunohistoquímica de tecidos positiva (identificação de antígenos específicos contra hantavírus) ou PCR positivo.

Critério clínico-epidemiológico - Indivíduo que tenha freqüentado áreas conhecidas de transmissão de hantavírus ou exposição a mesma situação de risco de pacientes confirmados laboratorialmente, apresentando, obrigatoriamente, as seguintes alterações: raios X de tórax com infiltrado intersticial bilateral nos campos pulmonares, com ou sem presença de derrame pleural que pode, quando presente, ser uni ou bilateral; Hemoconcentração (hematócrito > 45%); trombocitopenia (plaquetas < 150.000 /mm³).

MEDIDAS DE CONTROLE

Redução de fontes de abrigo e de alimentação de roedores – Reduzir ao máximo todos os resíduos que possam servir de proteção e abrigo para os roedores no peridomicílio; eliminar todas as fontes de alimentação internas e externas às habitações; impedir o acesso dos roedores às casas e locais de armazenamento de grãos.

Medidas para controle de roedores - Realizar desratização, quando necessária, somente no intra e peridomicílio;


Precauções para grupos profissionais freqüentemente expostos - Informar sobre as formas e riscos de transmissão; uso de equipamentos de proteção individual (EPI); busca de assistência imediata quando desenvolverem enfermidade febril.

Precauções para ecoturistas, caçadores e pescadores - Evitar montar barracas ou dormir em áreas com presença de fezes ou com covas ou tocas; não tocar roedores vivos ou mortos; não usar cabanas ou abrigos que tenham estado fechados por algum tempo, sem prévia ventilação e, quando necessário, descontaminação; impedir o acesso dos roedores aos alimentos; dar destino adequado aos resíduos sólidos e manter o plantio distante 30 metros das residências.

Descontaminação de ambientes potencialmente contaminados -

Ventilar o ambiente por, no mínimo, 30 minutos, abrindo todas as portas e janelas; umedecer pisos e paredes com solução de água sanitária a 10% ou solução de água com detergente ou, ainda, solução de Lysol a 10%; aguardar 30 minutos antes de proceder a limpeza; limpar móveis e utensílios com um pano umedecido em detergente por outro produto recomendado, para evitar a formação de aerossóis.
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Amebíase Doenças Diarréicas Agudas
Ancilostomíase Enterobíase
Ascaridíase Escabiose
Botulismo Esquistossomose
Brucelose Estrongiloidíase
Coccidioidomicose Febre amarela
Cólera Febre maculosa brasileira
Coqueluche Febre purpúrica brasileira
Criptococose Febre Tifóide
Criptosporidíase Filaríase por Wuchereria Bancrofti
Dengue Giardíase
Doença de Chagas Hanseníase
Doença de Lyme Hantaviroses
Doença Meningocócica


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